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Walden

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Henry David Thoureau em 1845, formado em Harvard, desgostoso com o crescente comercialismo e industrialismo da sociedade norte americana, deixou  sua cidade natal para construir sua casa e se instalar a beira do lago Walden, segue um trecho:

“No estado selvagem, toda família possui um bom abrigo, e suficiente para suas necessidades mais simples e rústicas; mas acho que não é exagero dizer que, se as aves do ar têm seus ninhos, as raposas suas tocas e os selvagens suas tendas, na sociedade civilizada moderna só metade das famílias possuí um abrigo. Nas vilas grandes e nas cidade, onde predomina especialmente a civilização, a quantidade dos que têm abrigo próprio é uma parcela muito pequena do total. Os restantes pagam por essa roupa mais externa de todas , que se tornou indispensável no verão e no inverno, uma taxa anual que daria para comprar uma aldeia inteira de tendas índias, mas que agora contribuí para mantê-los na pobreza durante a vida toda. Não quero insistir na desvantagem de alugar em comparação a possuir, mas é evidente que o selvagem possui seu abrigo porque custa pouco, ao passo que o homem civilizado normalmente aluga o seu porque não pode possui-lo; e com o tempo nem vai mais conseguir alugar. Mas, responde alguém, simplesmente pagando essa taxa o civilizado pobre pode morar numa casa que é um palácio em comparação à do selvagem. Um aluguel anual de 25 a 100 dólares, tais são os preços da região, permite-lhe gozar das melhorias dos séculos, aposentos amplos, pintura e papel claro nas paredes, uma lareira Rumford, paredes reforçadas com argamassa, venezianas, encanamento de cobre, fechos de mola, um porão espaçoso e outras coisas mais.

Mas como é que este homem, que dizem gozar dessas coisas, geralmente é um civilizado pobre, enquanto o selvagem, que não dispõe delas é rico em sua condição de selvagem?

Quando afirmam que a civilização é um verdadeiro avanço na condição do homem – e penso que é, embora só os sábios aproveitem suas vantagens-, precisam demonstrar que ela criou moradias melhores, sem serem mais caras; e o custo de uma coisa é a quantidade do que eu chamo de vida que é preciso dar em troca , à vista ou a prazo. Uma casa média aqui nas redondezas custa cerca de uns 800 dólares, e juntar esse dinheiro leva de dez a quinze anos da vida do trabalhador, mesmo que ele não tenha que sustentar uma família – calculando em 1 dólar o valor monetário da diária de um homem, pois, se alguns ganham mais, outros ganham menos-, de modo que ele terá de gastar, geralmente, mais da metade da vida antes de poder ter uma tenda própria. Supondo que, em vez de comprar, ele pague aluguel, continua a ser uma difícil escolha entre dois males. Seria sábio da parte do selvagem trocar sua tenda por um palácio nesses termos?”